Guilherme Jacob

Me chamo Guilherme Jacob, mas para muitos, Jacob. Tenho 27 anos, sou da cidade carioca de Juix de Fora (haha) e estou há 9 anos em Governador Valadares, cidade que escolhi inicialmente apenas morar em razão do curso de Direito, mas que se transformou em motivo para permanecer e habitar, envolvendo-me de fato com a realidade local. Minha relação com a UFJF começou muito antes da graduação, para ser mais preciso, há cerca de 27 anos haha Isso porque tive o privilégio dos meus pais, enquanto Técnicos Administrativos em Educação (TAE), terem se conhecido na UFJF, em Juiz de Fora, vindo a gerar eu e os meus irmão Fábio e Paulo, que também se graduaram na UFJF, respectivamente, em Geografia e Arquitetura e Urbanismo. 

Ao longo da minha infância e da adolescência, por inúmeras vezes acompanhei os meus pais no Campus da UFJF, seja em dias atípicos de trabalho, seja nos diversos passeios por todas as faculdades e setores. Guardo muitas lembranças dos corredores da Faculdade de Enfermagem e de algumas aulas de saúde da criança, onde por vezes fui uma cobaia feliz haha Também me recordo da dedicação da minha mãe à Universidade, que com certa frequência ficava redigindo nas noites de sábado e domingo atas do Conselho de Unidade e da Congregação. Assim como também recordo com carinho das falas do meu pai sobre o sindicato e o cenário político (o que ainda continua haha). Nesse período, por diversas vezes vi meus pais saírem às ruas de Juiz de Fora, juntos com outros servidores, em protestos contra medidas de diferentes governos. Já na adolescência, durante o ensino médio, tive a oportunidade de ser selecionado para participar do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIBIC Junior), ocasião em que fui direcionado para participar de um projeto de pesquisa na Faculdade de Direito, coordenado pela profa. Waleska Marcy Rosa, que visava analisar e identificar tendências nas decisões do Supremo Tribunal Federal na aplicação de direitos sociais. Nessa época, tive o meu primeiro contato com um livro de direito, o Curso de Direito Constitucional do prof. Gilmar Mendes. Assim, a experiência no PIBIC foi essencial para a escolha da graduação, me levando a optar pelo curso de Direito. 

Já a escolha do Campus GV veio por acaso. Como muitos jovens ao final do ensino médio, eu também me sentia inseguro sobre se conseguiria ou não ingressar no curso que pretendia na UFJF. Contudo, naquele tempo se anunciou a criação do Campus de Governador Valadares, cidade distante e completamente desconhecida para mim. Mesmo assim, diante da chance concreta de ingressar no curso que pretendia, decidi lançar-me ao desconhecido e sair da minha zona de conforto. E deu certo! Passei no curso e me mudei para Valadares, em 2013. Naquele tempo, me deparei junto com outros estudantes com o Campus funcionando sem acervo próprio na biblioteca, sem restaurante universitário, sem setores administrativos (apenas uma salinha de 6m2), sem ônibus circular, sem elevadores na Pitágoras, com concursos para professores ainda em realização e a instituição sem qualquer identidade visual, nem mesmo um site. Nesse caminho, muitas foram as lutas e @s estudantes com vontade de lutar. Tive o privilégio de conhecer estudantes incríveis que foram protagonistas desse processo e que contribuíram em alguma medida para a minha formação pessoal, como o Roni Duque, o Rinaig, a Karen Ramos, o Pedro Zanelatto, o Welder Nunes, o Luiz Márcio, o Vitor Hugo, dentre muitos outros que peço perdão por não conseguir citar nesse momento. Se você, leitor, ingressou recentemente como estudante, saiba que boa parte dos serviços e equipamentos que hoje estão à sua disposição foram fruto das lutas de muit@s estudantes que vieram antes, que dedicaram diversos dias e horas em protestos, reuniões e viagens para que algo fosse alcançado. Saiba, também, que isso não é algo permanente, e depende que você continue lutando! Aliás, a oportunidade de fazer parte do Centro Acadêmico dos Discentes de Direito (CADD), de contribuir com o Diretório Central dos Estudantes (DCE), de participar de diversas reuniões do Conselho de Centros e Diretórios Acadêmicos (CONCADA) e de poder representar @s estudantes em vários órgãos colegiados, foi definitivamente um divisor de águas na minha vida pessoal e profissional. Nesse tempo acertei, mas também errei (e muito!), fui aprendendo a lidar com os erros, as relações de poder, os interesses conflitantes e a construir o meu próprio posicionamento e narrativa de vida, algo que nenhuma disciplina ensina! 

Lembro de quando cheguei a GV e decidi por me abrir para todas as oportunidades que me possibilitassem entender a realidade da região. Inusitadamente, a primeira que tive, logo em 2013, foi acompanhar quase que diariamente, durante um ano, as atividades do Instituto Médico-Legal (IML), onde o Diretor à época, o médico Elsias Nascentes Coelho Neto, no seu último ano de carreira como médico-legista, me deu toda a atenção para mostrar não apenas o funcionamento da perícia médico-legal, mas, também, o resultado prático da elevada taxa de violência letal entre jovens, pretos e pobres, da região. Naquele local, as mortes violentas (homicídios, suicídios e acidentes) e o perfil socioeconômico das vítimas escancaravam o “preço” da desigualdade social (que ainda é cobrado!). Nessa mesma oportunidade, pude ainda realizar entrevistas com pessoas privadas da liberdade que só confirmavam aquilo que já era visto na rotina da mesa de autópsias. A experiência no IML, muito além de me mostrar a linha tênue entre a vida e morte, mostrou-me o quão privilegiado sou, e reforçou em mim o dever ético que todo e qualquer estudante da Universidade Pública precisa ter: construir o seu projeto de vida em consonância com um projeto coletivo de transformação da sociedade, caso contrário, terá falhado a Universidade (como em muito vem falhando). A par disso, ao longo da graduação tive a oportunidade de participar de projetos de extensão, monitoria e treinamento profissional e estágios (MPMG e DPU) que também contribuíram para a minha formação profissional. 

Chegando ao final do curso, caminhando na direção contrária dos que buscavam correr para pegar um diploma, decidi permanecer mais tempo para me dedicar à escrita da monografia, que considerava um passo importante que precisava ser levado muito a sério, a qual concluí com o título “O MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO COLETIVO: desmuniciando uma arma do urbanismo militar brasileiro”, oportunidade em que pude aproveitar as experiências e os estudos desde o início do curso até o final para aplicá-los num dado recorte que refletisse, pelo menos em parte, o curso, o caminho trilhado.

Após a graduação, já aprovado na OAB, iniciei uma pós-graduação em Direito Penal e Processual Penal, vindo a ser aprovado no processo seletivo de estágio de pós-graduação do Ministério Público de Minas Gerais, onde permaneci por dois anos e concluí a especialização na área criminal. Nesse ínterim, me dediquei a aplicar todo o meu conhecimento em direito para fiscalizar atos da Prefeitura e Câmara, vindo a realizar diversas investigações e denúncias de irregularidades relacionadas ao planejamento urbano da cidade (o que ainda venho fazendo). 

Dentre elas, ajuizei uma ação a fim de proibir a construção do maior edifício da região leste de Minas Gerais, que se encontra em tramitação. Além disso, fui indicado e eleito para representar a Associação dos Advogados de Governador Valadares (AADVOG) como membro titular do Conselho Municipal de Transparência e Controle Social, o que infelizmente vem sendo objeto de resistência por parte da Prefeitura em me nomear, mas que reflete também a história da região, marcada pela concentração do poder político nas mãos das mesmas elites do século passado, as quais não possuem o interesse em permitir que seus atos arbitrários sejam questionados. 

Atualmente advogo de forma autônoma e curso minha segunda especialização, desta vez em Direito Urbanístico, pretendendo permanecer na cidade e continuar atuando como agente provocador de mudanças da realidade local, realizando investigações, denúncias e ajuizando ações que possam resultar em efetiva melhora da qualidade de vida da população e a sua participação na tomada de decisões sobre a cidade.

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